sexta-feira, 22 de abril de 2016

atrasado

no baile cósmico das horas, cheguei tarde demais, as luzes estavam sendo apagadas e não restara mais ninguém... a agulha riscava uma música inebriante e dancei sozinho... havia copos espalhados pelo salão, restos de uma noite líquida, bebi aquilo que não era meu, deitei numa taça tristeza e soidão... de quem seriam aquelas bodas? Errei de casa, errei de vida... nem apertei a campainha, entrei no fim de uma festa vazia com a alma cheia de esperança.
deixei meu relógio num canto qualquer da câmara fria... o criado-mudo nada disse para o meu olhar questionador... queria contabilizar as horas, marcar o tempo certo de entrar na sua vida.
essa sensação me vem a tona... a sensação de que sempre estou no lugar errado, na hora errada com a pessoa certa... a gente conversa, a gente tenta, a gente não acredita que pode não ser, mas já não é... você sempre será a pessoa ideal para ser 'o amigo', você sempre será a pessoa que gosta das mesmas coisas, ler os mesmos livros, admira os mesmos atores e atrizes, você sempre será aquela pessoa que 'parece ser um cara legal' ou aquela que é 'muito lindo'... 'ah, esses olhos'... ah, essas lágrimas... ah, essa cabeça atordoada... ah, essa dor na alma... ah, esse querer... isso é o que ninguém vê, e está ali o tempo todo, entre o azul e o verde das minhas meninas... entre o vítreo e a retina, misturados no éter do meu olhar.

domingo, 27 de março de 2016

noitadas

a vida é tão chata que as vezes queremos gastá-la toda de uma vez
sair para beber, conhecer gente, sentar na mesa do primeiro bar escuro
se afogar em quantas garrafas forem necessárias até que o álcool nos queime por inteiro
quem acenderá o fósforo, a raiva contiga, quem explodirá essa cabeça cheia de personagens vazios?
quem virá com a taça de veneno e nos verterá garganta abaixo?
há um momento na noite em que todos se recolhem e nas ruas os corpos em vigília vagam sem alma alguma
é nessa hora perigosa que um dia perderemos a batalha que travamos contra nós mesmos.
um dia alguém virá e dará cabo desses braços sempre abertos para agarrar o mundo
um dia alguém virá com a faca amolada para cortar a jugular e dar cabo de nossa esperança
um dia alguém virá e porá uma pedra redonda em nossa última alcova e não terá anjo velando a nossa sorte
são amigos aqueles que veem o seu coração e que sabem o quão ferido ele está, e vem com o bálsamo em vez de espada.

quinta-feira, 3 de março de 2016

prazer

e a gente se entrega ao desejo, pois o amor é uma estrela distante
o prazer de dois corpos, por um momento, parece uma entrega verdadeira.
e o que vem depois do prazer?
um choro no qual as lágrimas caem para dentro e saem no suor
eu queria amar, não um amor didático, mas um amor que vem do interior,
um ponto de luz que faz dos meus olhos faróis
a atrair certo veleiro perdido nas vagas revoltosas...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

estre-linha

sozinho, vejo através da janela uma estrela..
eu cá, ela lá, separados por uma grade,
ela presa no firmamento, eu preso no meu quarto...
talvez a distância entre nós seja absurda,
mas a condição é uma só,
solidão.

passa-se um tempo e nada mais vejo
o céu tornou-se novamente breu
foi a estrela que se apagou, morreu?
foi a terra que se moveu?
foi a nuvem que a encobriu?
à francesa saiu...

que elegância!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

amar.go

... o doce do amor é estar disposto a amar... o amor não é a sobremesa, ele é toda a refeição, ninguém pode viver achando que é tudo uma maravilha, o remédio amargo também é amor...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

florada

vejo um cacho de felicidade azul,
na flora das ruas do bairro
vejo cores por todos lados
e nem primavera é
existem flores em todas as estações
existe amor para quem o quer

chuva-mar

Chove, está tudo verde, os eucaliptos estão belos
Aqui dentro também chove, uma chuva diferente,
Uma torrente de pensamentos, vendavais de desejos
Um grande temporal se forma na minha mente
Rios temporários surgem nos sulcos da minha pele
Dos meus poros brota a febre que me consome,
Essa chuva silenciosa que faz de mim enchente
Inunda minha alma de todas as coisas do ar
Amar, amar, amar, amar, amar e amar.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

a insustentável leveza 'de' ser

Tentei ser o mais leve possível, para que um dia, caso caia, que seja eu uma pluma, e não um bloco de concreto.

qual a sua fantasia?

E qual é sua fantasia? É hora de se despir da cara feia, dentes cerrados, olhos cabisbaixos, cabelos comportados... É hora de aquecer as juntas, levantar os pés do chão, mover os braços para cima, mexer o pescoço em movimentos pra lá, pra cá, 180, 180... É hora de soltar a voz, fazer vez de cantor, cigano, odalisca, Cleópatra, pirata, cacique, marinheiro, Vênus numa praia de Chipre... É hora de amar, de ser brega, ser cafona, de se vestir de cor, de soltar serpentina, de viver em hd... É hora de se embriagar, se entregar ao éter, ser amante, ser bufante, ser ridículo é lei, ser bizarro é normal... está proibido ser careta... É carnaval... festa da alegria... mas cuidado...essa euforia não pode deixar frutos, queime tudo na quarta-feira, incinere o passado recente, creme até que tudo vire cinzas e sopre no abismo que nos separa do paraíso...

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

confidencial


O amar depende de uma só pessoa.
Hoje eu conversei com a sua fotografia
engraçado, eu estava a dois cliques de distância
mas resolvi, de uma forma diferente,
te dizer palavras de dentro do coração:
confidenciei ao universo que te amo...
zilhões de astros foram testemunhas
e um bom anjo recolheu essa sentença
com a incumbência de nos teus ouvidos soprar...
que os ventos amigos e as ondas de amor,
balancem os teus cabelos e acariciem a sua pele.
O amor depende de uma pessoa 'só'. Só.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

undia


Um dia você será só lembrança, e algumas fotos no celular ou no notebook...
Um dia nossas conversas se resumirão a "ah, se lembra daquele dia no bar? eu me lembro dos papos, das risadas e da roupa que vestíamos"... ou "eu lembro bem de quando eu te vi de longe no metrô, naquela noite, me esperando na catraca, e fomos a pé pra casa, roubando beijos e abraços...
e também teve aquele dia que você me beijou na rua, passando para a minha boca aquela bala de melancia"...
Boas lembranças, sim, boas, pois as ruins o tempo se encarrega de apagar...
Um dia não teremos mais assunto, pois nossos caminhos nunca mais se cruzara... tudo ficara num passado que eu acho bom lembrar! E é disso que sobrevive o amor, de boas lembranças, pois quem ama mesmo não esquece... quem ama deixa partir... pois o que tinha pra viver, viveu, e o que tinha pra reter, no coração está, junto a peças do passado que preenchem parte do quebra-cabeça da história de cada um.

nunca mais conversamos


aquelas tardes em tua companhia
hoje são brasas vivas na minha memória
um dia hão de ser pó e cinza
mas ainda estão queimando na fogueira das horas

o tempo me consome e a saudade me sufoca

estou esfarelando e com um sopro virarei nada
estarei no chão, quem juntará novamente meus átomos?
serei varrido e recolhido num monturo de poeira
lançado num cesto junto com pormenores seus

aquelas tardes que se estendiam além da noite
na madrugada entre gemidos trocados,
as palavras cortavam o silêncio do meu quarto
e cada vocábulo beijava minha alma.

saudade dos códigos que se traduziam em desejos

sinto falta de parolar com você
sinto falta da pessoa que eu seria
se nossas conversas não tivessem somente sido
palavras vazias em noites fartas de solidão.

ternurinha

Na madrugada paulista, voltando pra casa,
subindo a ladeira aonde expio minhas memórias
buscando fôlego no respirar resfolegado,
no alto do morro, uma surpresa surge num anjo de quatro patas
Olho para trás e um par de olhos me persegue.
Ele mudou seu rumo, eu era sua direção, talvez sua esperança
Amei aquele cachorro, inventei nomes, criei situações
Na minha mente o chamei de Ternura
Ah, se eu pudesse teria sido seu dono! 
Se eu pudesse teria sido seu humano de estimação.

domingo, 24 de janeiro de 2016

raso razão

De qual lado romperá o fio que nos sustenta?
quem chorará?
Seremos fantasmas,
almas que habitam o mesmo mundo.
Sumiremos na litosfera deste plano
Nos tornaremos estranhos numa terra comum
quem desistiu primeiro?
quem lamentou o amor estrangulado
no cadafalso, fundo falso, raso?
Promessas proferidas em vozes metálicas
Mentiras escondidas em palavras esculpidas
Não enxergara o fundo dessas águas turvas
Mas a lâmina me mostrou quão rasa
Era essa superfície opaca...

coloquial do moderno amor


> A gente vive uma era rasa de pessoas fúteis e relacionamentos vaporosos.
> Estamos numa canoa furada.
> É difícil. Mas...
> Esse "mas" é uma metralhadora com balas de palavras que perfuram a alma.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Os Miseráveis, página 37

Ensinem o mais possível aos que nada sabem; a sociedade é culpada de não instruir gratuitamente e responderá pela escuridão que provoca. Uma alma na sombra da ignorância comete um pecado? A culpa não é de quem o faz, mas de quem provocou a sombra.

Victor Hugo - Os Miseráveis

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

pássaro

O azul profundo do oceano estampado no olhar de uma gaivota, em busca de um escolho para descansar... há rochas no meio do mar, há mar, amar...
O pássaro perdeu-se na terra, voa errante entre céu e mar, se atira nas vagas procurando o leito rochoso do mundo, se lança na atmosfera, na esperança de abarcar com os olhos toda a imensidão do ar...
O pássaro não tem paz, é livre mas não sabe o que fazer com sua liberdade, falta um propósito, um grande trabalho, falta sangrar, falta o ricocheteio das tormentas... falta um ninho, um revoar, falta o mar, amar.